O líder da Al Qaeda, cuja morte foi anunciada no fim deste domingo pela Casa Branca (Reuters)
CAMBRIDGE
Então Osama Bin Laden está morto, diz a inteligência americana. Os EUA dizem ter o corpo. Barack Obama, o presidente americano, acaba de falar em rede nacional com um mal contido sorriso no rosto. As TVs e jornais dos EUA definem o pronunciamento como histórico.
O que há para comemorar e quem pode reivindicar esse legado?
Pelo pouco que vazou de informação neste momento, Bin Laden foi morto em um ataque no Paquistão _nada inesperado, pois, já que se sabia que o líder de honra da Al Qaeda estava escondido havia anos na inóspita região fronteiriça com o Afeganistão.
Nos últimos anos, essa região se tornou o foco da preocupação americana, sobretudo o lado paquistanês _a ação de hoje, porém, ocorreu mais no interior do país, a cerca de 50 km da capital, Islamabad*.
A cruzada militar original foi lançada por George W. Bush, presidente de turno quando dos ataques do 11 de Setembro e patrocinador da Guerra ao Terror (seria mais justo dizer que os mentores são Dick Cheney e Donald Rumsfeld).
Barack Obama, porém, assumiu a Guerra no AfPak  (Afeganistão + Paquistão) como sua prioridade maior, em lugar da controversa operação no Iraque que drenou recursos de George W. Bush.
Desde 11 de Setembro de 2001, quase dez anos atrás, os EUA queriam Bin Laden morto _como um símbolo do terrorismo islâmico muito mais do que como um chefe efetivo da principal rede terrorista atuante no planeta. Agora está feito.
E o que a morte de Bin Laden trará de diferente para o planeta?
Impossível dizer ainda.
O saudita, que montou a maior franquia de terrorismo que já atuou no planeta, há anos estava afastado das operações diárias de sua rede. Sua figura tem um inegável peso simbólico para aqueles que pregam a destruição dos EUA, mas seu poder efetivo é questionável.
Bin Laden sofria de problemas nos rins, e seus movimentos eram restritos pelo tratamento de hemodiálise.
O moral que o líder terrorista ainda tinha sobre seus seguidores, entretanto, ainda era alto _embora menor que nos anos imediatamente após a destruição das Torres Gêmeas , o maior atentado em solo americano em todos os tempos. 
Há alguns anos seus pronunciamentos perderam o poder fantasmagórico e deixaram de assombrar a internet. Mas Bin Laden ainda é _ou era_ um ícone. Mais do que o poder do homem, vigora o poder da ideia que ele representa. Sua figura era o que amarrava a pulverizada rede da Al Qaeda, tal e qual uma marca forte numa franquia.
Nada representa o terrorismo islâmico anti-EUA melhor que Osama Bin Laden. Vide os gritos e hurras em comemoração à sua morte de populares amontoados diante da Casa Branca nesta noite.
Impossível que os americanos deixassem de contar sua morte _tantas vezes um alvo falho, tantas vezes um objetivo fugidio, tantas vezes perdido por pouco_ como um tento.
Mais do que a contenção de uma ameaça aos EUA, a morte de Bin Laden cai por essas bandas como um atestado de competência da combalida inteligência americana, tão na berlinda nos últimos anos.
O presidente democrata reivindicou para si a vitória, citando uma ordem dada por ele para conduzir a operação. Citou, também, a inteligência reunida sob a batuta de Leon Panetta, que deve ser seu secretário da Defesa dentro em breve.
Mas Obama citou também Bush e sua incansável busca pelo saudita, embora o republicano  tenha relegado o Paquistão a segundo plano em sua estratégia.  
As TVs , por sua vez, falam em “vitória americana” e “inequívoca mensagem da América de que a Justiça prevalece, não importa quanto tempo leve”.
 Um “momento para celebração”, nas palavras do meu professor David Gergen, que trabalhou para quatro governos americanos e falou à CNN.
Se surgirão sucessores, ninguém ainda sabe _ao longo dos últimos anos, todas as figuras de destaque que emergiram em conexão com a Al Qaeda sucumbiram sob ataques americanos. Mas a rede ainda é ampla e resistente _a medida de sua força hoje, porém, está para ser vista agora.
Já Obama, certamente, contará com esses pontos em sua campanha para a reeleição.  Pontos que, normalmente, costumam ser computados pelos republicanos.

Escrito por Luciana Coelho às 01h02